Artigo

À propósito do Dia do Mestre

No mês em que se comemora o Dia do Professor, as atenções se voltam para os educadores das criancinhas, os que dão os primeiros passos na arte (sim, uma arte) de ler e escrever, de somar e subtrair. São estes a maioria dos professores de nosso país, vítimas do processo de aprovação automática hoje quase dominante em nossas cidades, trabalhando por salários inferiores à sua capacidade, e muitas vezes investindo parte de seus proventos para garantir a qualidade ou continuidade dos estudos de seus alunos.

À medida que estes alunos crescem de idade (e de estatura e rebeldia também), contudo, me parece que a valorização do professor diminui no mesmo ritmo que cresce a evasão escolar. Não é, portanto, de se estranhar que o professor universitário esteja tão desvalorizado.

Parte deste descrédito deve-se, no meu entender, à multiplicação dos cursos superiores e ao aumento do acesso, seja pelo motivo anterior ou devido a programas sociais e/ou de financiamento educacional. No imaginário social talvez tenha sido criada a ilusão de que qualquer um pode entrar numa faculdade, logo qualquer um pode ser professor universitário - pensamento infelizmente encampado por algumas Instituições de Ensino Superior, que na tentativa de conquistar mais alunos, reduzem o preço de suas anuidades, ônus que a médio prazo quase sempre repousa sobre o vencimento docente ou sobre as condições de oferta dos cursos.

Não desmerecendo os demais profissionais de ensino, ninguém exige reconhecida competência profissional ou mesmo cursos de mestrado e doutorado de um professor de alfabetização, de ensino fundamental ou do ensino médio. Estudamos mais, não para trabalhar menos (admiro e valorizo os professores que todos os dias encaram a mesma turma por horas seguidas), mas porque nosso desafio é também superior: com todas as heranças de deficiências educacionais adquiridas pelos estudantes ao longo de mais de uma década de ensino, e com o fenômeno recente da adolescência estendida até os 21 anos, temos em prazo diminuto que recuperar e formar cidadãos conscientes e profissionais que ajudem no crescimento de nosso país.

Por isso, quero aplaudir sinceramente a cada um de nós. Que sejamos tão valorizados pela sociedade e por nossos patrões quanto já o somos pela maioria de nossos alunos - e que possamos ver, realizados, o resultado desta valorização na forma de um país mais justo e competente.


AJ Chaves é jornalista e mestre em Ciência da Informação.

Artigo publicado no blog Fazendo Media, em outubro de 2007.
Permitida a reprodução, desde que com a citação de autor e fonte.
Crédito da imagem acima: arte sobre foto de Angélica Lima.