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Ensino superior: um grande (e difícil) mercado para assessoria de comunicação

Nestes tempos de “explosão da informação”, a sociedade moderna passou a entender informação como um produto necessário para si, ainda que não compreenda exatamente de que se trata e/ou que fará com a mesma. A concepção popular paradigmática de ciência (o saber "pleno e inquestionável") contribui para que o interesse particular por informação científica – especialmente após experiências genéticas, novas drogas farmacêuticas e microchips – venha crescendo mais e mais. Há um público ávido por este tipo de informação, e há informação que precisa chegar a este público.

Durante muitos anos, o saber científico ficou praticamente restrito aos cientistas. Sem desmerecer a importância da informação científica entre os pares, Boaventura Santos, em sua obra Um discurso sobre as ciências (Lisboa: Afrontamento, 1993) aponta que “o conhecimento científico pós-moderno só se realiza enquanto tal na medida em que se converte em senso comum.” Para que tal fato ocorra, é necessário que a informação científica consiga alcançar e ser incorporada pelos não-cientistas. Contudo, atingir estas pessoas com informação científica, por qualquer meio escolhido, não é tarefa simples. Corre-se o risco de estar jogando “palavras ao vento”, ou seja, conteúdos acabados para um público que, por não ter sido estimulado a lidar com este tipo de conhecimento, terá menos condições de interessar-se por e/ou assimilar determinada informação científica.

A relação entre cientistas, geralmente absorvidos por suas pesquisas e viagens, e os jornalistas científicos – “peritos” especializados em interpretar as descobertas daqueles para o grande público – sempre foi marcada por controvérsias aqui e ali. Os primeiros geralmente queixam-se do despreparo de alguns jornalistas para atuarem especificamente no jornalismo científico e/ou do tom “popularesco” que estes às vezes adotam ao “interpretar” o conhecimento científico na mídia. Os jornalistas, por sua vez, reclamam daqueles cientistas que não sabem lidar com a imprensa e/ou dos releases demasiadamente técnicos que chegam às redações.

As universidades, centros de produção do conhecimento através da pesquisa científica, acreditam e multiplicam a ideia de que ciência e sociedade se necessitam e se completam. No entanto, a divulgação científica vinha sendo encarada há até alguns poucos anos de forma passiva: cabia ao jornalista científico buscar nas instituições as pesquisas desenvolvidas e/ou em desenvolvimento e interpretá-las para o público.

Desde o final do século XX, contudo, algumas universidades passaram a investir em estruturas organizacionais capazes de reverter esta situação. As assessorias de imprensa e agências de notícias assumiram – parcial ou totalmente – a função que antes cabia ao jornalista científico e passaram a produzir matérias e releases para a mídia em geral sobre pesquisas desenvolvidas no âmbito das instituições.

Apesar de ambas as estruturas organizacionais possuírem atividades de divulgação exercidas por jornalistas, há uma diferença no modelo de trabalho. A assessoria de imprensa sugere pautas para a mídia através de releases. Também pode ter requisitada sua atuação pelos veículos de imprensa (exemplo: uma revista tem em sua pauta matéria sobre equipamentos para ginástica em casa e solicita à assessoria de imprensa da universidade verificar a existência de pesquisa desenvolvida sobre o assunto e/ou telefone de um especialista em educação física ou fisioterapia para dar parecer a respeito). Já a agência muitas vezes substitui o jornalista da mídia no contato direto com o pesquisador. A agência de notícias (também chamada “agência de informação”) elabora e fornece matérias jornalísticas, por meios rápidos de transmissão (telex, telefoto, fax, e-mail etc.) para seus assinantes – órgãos de imprensa, instituições públicas e privadas – de modo regular e ininterrupto.

Em minhas aulas de Assessoria de Imprensa tenho reafirmado que um dos grandes mercados de assessoria são as Instituições de Ensino Superior. É necessário enfatizar, contudo, que apesar de as agências e assessorias universitárias terem surgido no Brasil com o intuito de realizarem divulgação do saber produzido nas IES, é perceptível o fato de que atualmente a divulgação científica tem papel secundário no trabalho junto à imprensa: a maioria das universidades, mesmo dispondo de estruturas ideais para divulgação de sua produção, têm optado antes por multiplicar informação que possa se reverter em imagem institucional.


AJ Chaves é jornalista e mestre em Ciência da Informação.

Resumo de trabalho apresentado durante o 2º Encontro Rio-ES de Professores de Jornalismo, realizado em 21 de outubro de 2006, na PUC-Rio.